Miki Sato

Formei-me em Terapia Ocupacional na Universidade de São Paulo em 2005. Após a graduação, segui caminhos entre a intersecção da saúde mental e o campo social da Terapia Ocupacional, o que tenho feito até hoje. São duas perspectivas de trabalho que me identifico e que fazem muito sentido e ressonância para minha prática profissional.

Após a graduação, fiz um Aprimoramento Multiprofissional em Saúde Mental pela Fundação de Apoio Administrativo (Fundap), no Centro de Atenção Psicossocial Prof. Luís Da Rocha Cerqueira. Sempre fui encantada pela questão da Saúde Mental e o cuidado das pessoas em sofrimento psíquico na perspectiva Reabilitação Psicossocial. Concomitantemente fiz um curso de formação em Acompanhamento Terapêutico pela Rede Atua.

Foi uma época de muitos questionamentos e aprendizados, onde fui instigada a entender o que de fato era o desafio do cuidado a pessoas em sofrimento psíquico, de privação de direitos, enfim, de pessoas e grupos que não conseguiam ou não podiam exercer sua autonomia de forma plena e saudável. Reflexões de como a terapia ocupacional pode ser um caminho potente nesse cuidado, uma vez que nosso olhar é voltado ao cotidiano, aos papéis ocupacionais, para ajudar e construir junto com cada paciente ferramentas para uma vida com menos estigma, menos sofrimento, e sim mais possibilidades, potência e inserção onde quer que ele deseje. Possibilidades essas de “cura”, de circulação social, de autonomia financeira, de cultura, enfim, de vida.

Minhas experiências profissionais posteriores foram norteadas pela Saúde Mental, seja em Centro de Atenção Psicossocial, atenção básica da rede pública de saúde e também na rede privada e em atendimentos e acompanhamentos particulares.

Em relação ao campo social da terapia ocupacional, durante minha graduação participei de projetos ligados à temática, e, instigada a buscar novas reflexões, concluí em 2017 o Mestrado em Terapia Ocupacional na Universidade Federal de São Carlos. O tema da minha busca era a vida econômica e cultural das mulheres africanas que viviam na cidade de São Paulo. Interessava-me entender e estudar o que movia essas mulheres a buscar projetos de vida em um outro país, com suas dificuldades, sucessos e desafios, e qual percurso delineado por cada uma delas. Esse tema, relacionado a entender o que move as pessoas, como elas podem se inserir e produzir o melhor de si e também para a sociedade é recorrente, todos nós nos perguntamos e às vezes precisamos de ajuda pra definir projetos, propósitos e achar os caminhos.

Atualmente continuo na Saúde Mental e tenho voltado minha experiência profissional na Atenção à Saúde Mental de crianças e adolescentes, que tem se revelado uma área de muito interesse pessoal, instigando-me aos estudos, a leituras, a conversas e ao desafio de pensar no cuidado dessa população. As particularidades dos pequenos e dos jovens coloca-se como desafio de pensar num trabalho com a família, nos recursos terapêuticos a serem utilizados, nas possibilidades de fortalecer os espaços de circulação, na inclusão escolar, na medicalização daquilo que é considerado “sintoma”, pensar a questão do brincar e da infância na contemporaneidade.

Minhas escolhas e buscas sempre foram por contextos e demandas diversas, mas que de alguma forma dialogam com aquilo que acredito ser a terapia ocupacional. Penso, como terapeuta ocupacional, numa prática que deve ser pautada pela questão de direitos e possibilidades. De ir e vir, circular pelos vários espaços existenciais da vida, trabalhar e descobrir que sempre há novos jeitos de estar nesse mundo.

Assim, acredito e busco projetos, lugares e pessoas que de alguma forma têm ressonância com minha trajetória. E também pela minha busca por uma forma de atenção e cuidado pautada no respeito, na escolha e nas necessidades de cada indivíduo. Que seja um projeto permeado pela autonomia, horizontalidade, verdade, parceira, comprometimento, e por que não também, por cor, poesia e alegria?